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Crônica - =E tempo de Ogun, vamos a luta camarada - Manoel Messias Pereira




É tempo de Ogun, vamos a luta camarada.


A data de 23 de abril geralmente é lembrado o São Jorge Guerreiro, o que o sambista Zeca Pagodinho disse "Meu pai Ogun", o que o cantor Jorge Bem-Jor, também fala salve Jorge e talvez todos os Jorges neste dia sentem-se saudados. Jorge da Capadócia ou o Jorge da Lida, conforme a tradição um soldado romano do exercito do imperador Diocleciano, venerado como mártir.

E o Ogun como entra na história o primeiro apontamento que li foi o de Leopoldo Bettiol, um estudioso da cultura afro e pelo que cheguei a perceber faleceu muito jovem e deixou uma série de apontamentos que foram estudados mais tardes por grande parte dos antropólogos brasileiros como Kambengele Munanga. E o que encontrei no livro "Do Batuque e as origens da Umbanda" atribuído a Bettiol na pagina 205 foi que "Ogum é uma divindade de primeira ordem, filho incestuoso de Yemanjá com Orugam, o deu do ar, seu primogênito preside à ação, representa a energia, o demônio, as lutas, as guerras, as conquistas, a elevação para as grandes alturas: Ogun-gá-já subir mais alto".

Porém quando olhamos um outro livro como o de Fernando Portugal, que é um profissional que sempre trabalha para instituições grupos de estúdios de cinema e televisão, na obra intitulada "Curso de Cultura Religiosa Afro Brasileira, na página 45 encontramos "O sufixo "Gun" significa guerra. Ogun não é somente o Orixá da guerra, ele aparece na Nigéria, como um homem alto, magro, durante praticamente toda a vida, solteiro, e não é aquele cavaleiro romano que dão a entender no candomblé no Brasil. Ele é o orixá da metalurgia, os caminhos da encruzilhadas. Orixá do ferro, do aço e dos metais ferrosos e não apenas o Orixá da guerra.

Em Bettiol "o seu Orixá é um meteorito ou ferro nativo ou mesmo qualquer fragmento de ferro, sendo mais usado para a consagrações uma vara ou barra deste metal. junto do itequé do ídolo, imagem esculpida uma lança, facão, espada ou foice, machado, esfera de ferro."

Em Portugal, ele afirma que Ogun está associado à forja, à bigorna, ao uso e a confecção de armas. É o orixá dos ferreiros, dos escultores e está intimamente ligado a Exu, a terra, ao chão as chamadas forças telúricas, ou seja, as forças irmanadas de dentro da terra. Em todos os lugares existem forças telúricas. É o Orixá associado ao fogo, as emanações terrestres, as partes mais quentes da terra, isto é interior da terra, de onde emanam energias capazes de auxiliar o homem em sua caminhada.

Esses apontamentos já dá pra gente trabalhar no processo de identificação do que ambos autores estão tratando. Quando estive no Museu Afro Brasileiro o lá no Ibirapuera, á pela segunda vez, pois a primeira foi quando fazia o curso de africanidade e tive aulas com uma professora que lá estava, a professora Jane que agora não recordo-me o sobrenome. Portanto na segunda vez, que fui lá estava com alunos e professores da escola que trabalhava a E.E Genaro Domarco e na oportunidade um guia explicou-nos, por que falamos que a Religião afro também é monoteísta, assim como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.

Pois o guia parte de uma lenda que Olorum ou Olodum cria o céu a terra e tens os orixás como seus auxiliares, portanto esses deuses chamados de orixás seguem o Olorum e essa lenda também colabora comas explicações do livro de Fernando Portugal, em que a cada orixá coube uma tarefa, e essa são as forças da natureza, por exemplo há os orixás da água, como Yemanjá, Oxun, Nana que representa o barro, da vegetação, a agricultura, da fertilidade e nisto temos Oxóssi, Ossanha, Oká, Oké, Cairê e assim por diante. E em relação a Ogun, foi preciso dar ele missão de ensinar os homens arar aterra e através da metalurgia, pois ele fez as primeira ferramentas agrícolas. Assim assentamento de Ogun tem e que determina os Ojubos. Mas Fernando Portugal explica que assento coletivo de Ogun é na mata é na cachoeira. Portanto é assento individual, nas casas das pessoas. Conforme os oriki, Ogun é que vence a guerra, a demanda. Ogun é um cavaleiro e suas espadas são aladá-Meji, e ele é o senhor das Batalhas conforme fala Jorge Bem Jor. Verás que em todas as guerras sangues são derramados. Ou você acredita que nas guerras de brancos derrama o que? que na guerra de cristão os sangue é o que? Vinho tinto, groselha. Não é.

Toda a arma feita de ferro, e as guerra tens hoje até tanques feito de ferro, e tens vidas que se perdem ou não?

O mais aguerrido de todos os orixás. Porém há uma divergência entre os dois autores. Para Fernando Portugal, Ogun também era um caçador e sua mãe era Tabuto e o seu pai Oranyián, devido suas atividades, foi coroado na cidade de Ilé Ifé (ilé significa chão, Ifé significa amor) portanto é o chão do amor, e obteve o título de Osi-Imolé. Portanto diverge quando Bettiol disse que ele era filho de Yemanjá com Orugan. A explicação talvez seja que Tabuto fosse filha de Yemanjá, já que todos nascem com um pai e uma mãe de cabeça. Mas também não posso afirmar. Outro ponto divergente entre os dois autores é que Fernando Portugal disse que Ogun era um homem muito humilde, rude, e para poder caçar, ficou fora seis meses. Na volta, não retornou para Ilé-Ifé, foi para outra cidade chamada Iré vestido de marixô, por isso nos terreiros há cantiga Ogun Oniré, ógun, akooro onilé abaté órum - Ògun´`orixá, Oni que é Senhor, Iré cidade de Iré onde ele foi aclamado, quando entrou na cidade, com o título de Aladá-Meji.



Verás que é uma outra história, mas dentro do mesmo contexto, é o dono da terra e dono da caminhada. Mas toda a história parte da lenda religiosa. Porém quando Bettiol escreve que representa a energia e em seguida ele disse o demônio, diga-se de passagem a formação de Leopoldo Bettiol provavelmente foi judaico-cristã. Pois são nestas religiões é que vemos o bem e o mal. Portanto essa ideia de demonização que utilizam os pastores para falar da cultura afro não tem o menor sentido, para nós da cultura afro.

Pode ver que essa não é a linha adotada por Fernando Portugal. Pois na cultura afro a figura do Exu, é de mensageiro dos deuses, por isto temos que entender obras como o trabalho de mestrado e doutorado defendidos por Leandro Passos na Unesp de são José do Rio Preto - SP, o trabalho do Professor Juarez da Unesp de Bauru, e agora todos nós brasileiros temos até leis como a lei 10639/2003 e a Lei 11.645/2008, para tratar da cultura afro e indígena brasileira os professores de todos níveis e campos do conhecimento precisam apoderar destes trabalhos assim como dar um olhar humanístico para o ensino da história, da sociologia, da filosofia, ou seja antropologia da universidade para o ensino fundamental e médio. Sei que essa é uma outra briga, pois com a mercantilização da educação, há uma desarrumação em relação as matérias de ciências sociais e um processo de desvalorizações dos currículos humanistas. É interessante lembrar disto, pois na minha juventude começando a escrever, recordo que fiz um texto cultural lá no Jornal onde trabalhava o meu confrade Vicente Serroni, extinto Correio da Araraquarense, após publicarmos um texto citando trechos do livro de Bettiol fui surpreendido por uma carta malcriada de um cristão. É o leitor que era escritor pentecostal, que provavelmente que não entendeu nada do que escrevi, ficou bravo. Não sei se o confrade Serroni lembra disto. Eu não respondi na hora pois sabia que o nível cultural do rapaz que reclamou era muito rasteiro e ele não estava a altura do meu simples texto.

O que precisamos é pensar portanto no conceito educacional, que se quer. Porém sabemos que o atual quadro político e social deseja uma educação ter nas escolas a anti - ciência, que não valorize os escritores, uma educação religiosa do ponto de vista cristão pentecostal, ou seja criar a figura do ser-humano que deva ser vazio de conteúdos e ser devidamente explorado por seu próximo seja ele o patrão, ou pastor religioso. E hoje há inclusive cursos de mentalidade de extrema direita na internet e fazendo a cabeça de alguns profissionais da educação. É triste coitados. E dá pena da humanidade que se deseja formatar.

Outro assunto é que a minha mãe de sangue e de santo dizia era o seguinte, filho de Ogun na Umbanda veste azul, já no candombe veste vermelho. E eu associava isto a uma coisa interessante eu falava assim visto de vermelho e uso a foice e o martelo. Símbolos de Ogun, na linha de Oxalá.-, no candomblé. Estamos vivendo tempos de batalhas então vamos a luta camarada.



Manoel Messias Pereira

professor de História
São José do Rio Preto- SP. - Brasil




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