Crônica - A morte de Bolinha _ Manoel Messias Pereira

 







A morte de Bolinha


Na nossa vida guardamos imagens, que nos segue para a vida toda, muitas destas imagens foram acontecimentos marcantes outras delas são lembranças que não se apagam. Recordo que era uma manhã fria e que acordei, desci a escada de casa, corri para ver debaixo do forno onde  dormia a minha cachorrinha Bolinha e quando vi ela estava imóvel, havia morrido.

Fiquei muito triste e voltei para dentro da casa sentei na escada que ia para o quarto e horei quietinho, sozinho contendo toda a minha dor de menino.

Minha mãe pegando a lenha o graveto para acender o fogão e passar o café, perguntou o que aconteceu, pois viu-me com os olhos ainda marejado. E eu disse ;

-mãe a Bolinha morreu.

E ela acrescentou, tudo que está vivo morrerá um dia, as causas podem ser muitas. A bolinha foi vítima do frio. Depois eu vou dar um jeito lá, agora agasalhe e senta na mesa que logo tem café quente e isto aquece.

Calcei a minha alpargata vermelha, com aquele botãozinho branco. E fiquei esperando o café. E junto batatas doce, 

Logo minha mãe também se arrumava e dizia;

-Cuida de sua irmã, se ela chorar põe no carrinho de mão e anda no terreirão. Calce o carrinho com as mantas e os travesseiros. Se alguma coisa acontecer chame a sua madrinha.

E assim ela também tomou o café e apressou em sair, inclusive mostrando onde estava o almoço, num pequeno compartimento do fogão de lenha.  A minha madrinha era a vizinha de parede e meia, chamada a dona Lazinha.

Precisei falar com minha madrinha e corri lá e disse ;

-Madrinha a Bolinha morreu, ela disse pode deixar que vou fazer um túmulo para ela.

E assim não sei o que ocorreu. Somente que a Bolinha deixou de permanecer morta no quintal. E logo a minha irmã acordou. Chorou um pouco, comas deficiências dela.

Recorri ao velho carrinho de mão levei cobertas mantas, toucas, travesseiros e caminhei com minha irmã pelo terreirão. Fiquei fazendo isto um bom tempo. Depois levei ela para dentro. Dei o café da manhã e arrumei uns brinquedinhos em que ela divertia. Éramos apenas duas crianças eu com quatro anos e ela com dois. 

Sabia que não ia ninguém em casa. Sabia que o almoço era feito de um dia para o outro e ficava num compartimento do fogão de lenha. A água era retirada de um poço mas geralmente a minha mão abastecia o pote antes de partir.

Essas imagens, esses momentos, foram tão importantes talvez porque foi o dia que descobri, que tudo o que é vivo morre. Pois foi o dia que a Bolinha morreu talvez pela causa do frio intenso do mês de junho de 1959.

Manoel Messias Pereira

cronista

São José do Rio Preto -SP. Brasil




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