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Cronica - As marcas indeléveis de nossos sonhos políticos -Manoel Messias Pereira

 















As marcas indeléveis de nossos sonhos políticos

Em nossa história sempre há marcas indeléveis de sonhos, por certos de momentos tristes outras vezes aflitivas e em algumas vezes alegres. E para nos situar num grau mais elevado de nossos conhecimentos , buscamos na memórias os debates contemporâneos, muitas vezes frios numa pre-noção da realidade. E quando temos que pensar a historiografia brasileira, geralmente as marcas mais visíveis da memória, com certeza foi o período de chumbo em que instalou-se no Brasil, operações orientadas pela Cia (o serviço de Inteligência dos Estados Unidos), e assim processou-se a Operação Brother Sam, a Operação Condor e a Operação Bandeirantes, em 01 de abril de 1964.

E essa história talvez tenha iniciado muito antes pois quando lembramos de Jânio da Silva Quadros quando renunciou, no mesmo dia de sua denúncia, o diretor da Cia no Brasil enviava um telegrama às autoridades americanas e em especial ao presidente John Kennedy. E essas informações constam do livro de Thomas Coelho "A sombra do sistema" em que consta o seguinte trecho "As intenções de Quadros para Che Guevara e Gagarin e mais suas manifestações e tendências pública aspirando endossar esse bloco tem provocados fortes reações do exército e de elementos conservadores no Brasil. Pensando que provavelmente ele renunciou na expectativa de provocar uma forte reação popular desejando o seu retorno" Mas isto não ocorreu. ..".O vice Presidente Goulart o constitucional sucessor estava na China comunista. Ele é um forte esquerdista e seria improvável o Exército admiti-lo, exceto com um controle da política brasileira " E assim foi o telegrama.

Por isto Coelho Neto crê que o dia 25 de agosto de 1961 iniciou o movimento que quebraria a legalidade institucional em 31 de março de 1964, a meia noite portanto no dia 1 de abril dia da Mentira, e acabaram chamando o movimento de revolução, mas era mentira. A verdade era um golpe como alias o Brasil já está calejado de fazê-lo, ao longo de sua história.

Quando lemos o livro do jornalista Julio Jose Schiavenato, ele escreve que Jânio renunciou em 25 de agosto de 1961 e que os ministros militares vetaram a posse do vice-presidente João Goulart, e sita um plano insuflado por um primário anti-comunismo de Carlos Lacerda, que previa uma eleição indireta e para levar um general ao poder. E o senador Jeferson Aguiar enviou ao congresso uma emenda constitucional propondo eleições indiretas e impedindo a posse de Jango.

E para colaborar com essa informação acima há um Memorando a Agencia Central de Inteligência datada de 27 de setembro de 1961, que trata do seguinte assunto "Infiltração comunista no Governo Brasileiro" e vale lembrar que estávamos em plena guerra fria. E o texto estava assim escrito "O presidente João Goulart tem uma longa história marcada por trabalhar junto aos comunistas num esforço para aumentar seu poder político, especialmente em grupos sindicais. Os comunistas estão tendo consideráveis sucessos em obter cargos no governo federal. Entretanto, a inadequação na informação de nomes e serviços que permite até agora uma avaliação incompleta da extensão dessa infiltração". E lembrava que Raul Riff era um comunista e que foi indicado para secretário particular de Goular. E além deste telegramas a outros tantos como do dia 28 de agosto de 1961 enviado por Allen W Dulles falando sobre "situação no Brasil" em que no memorando ele disse que a situação política no Brasil deteriorou-se rapidamente desde a renuncia do Presidente Quadros e a causa desta foram vária e incluía o próprio temperamento do Presidente que era conhecido por suas atitudes dramáticas e drásticas". E relata que um fator que contribuiu foi a alegação do governador Carlos Lacerda que Quadro estava tentando reforçar o seu próprio poder à custa da legislação. O nome do Diretor do serviço de inteligência faz -me lembrar John Foster Dules um escritor que escreveu com detalhes dois livros sobre a vida de anarquistas e comunistas brasileiros.

No livro de Phyllis R. Parker "1964: O papel dos estados Unidos no Golpe de Estado no Brasil", consta que o governo de João Goulart procurou adotar uma política externa independente, a qual fora amplamente divulgada e adquiriria uma certa popularidade nacional. Uma política que depreciava as alianças comprometedoras recomendava aberturas para com os países do bloco comunista como amigos potenciais e parceiros comerciais do Brasil. O embaixador americano Lincon Gordon achou como essa linha vinha do governo de Jânio era substancialmente mais amistosa para os Estados Unidos. Neste momento os estado Unidos da América esperava que a Organização dos estados Americanos adotasse sanções obrigatórias contra Cuba de Fidel castro contudo Richard Goodwin e Lincon Gordon recomendaram ao Secretario de Estado Dean Rusk que adotasse uma linha mais moderada. Gordon sugeriu que Rusk procurasse, , por conseguinte assegurar um isolamento moral efetivo sem sanções obrigatórias, e evitar que a OEA adotasse uma posição em que o Brasil votasse com a minoria, em que os votos da maioria representassem os pequenos e menos populosos países da America Latina.

A ideia de João Goulart estava nas reformas de bases, mas elas estavam muito longe de socializar ou comunizar o país. Na verdade o que ele desejava era agilizar o capitalismo brasileiro, proporcionando a condição de desenvolvimento mas com uma maior participação da população, e a sua reforma de base tinha um caráter burguês ele não era um anti-capitalista e nem agredia a propriedade. E a história de João Goulart, mostra que ele vem de uma família rica de proprietários de terra, como de seu pai Vicente e Vicentina Goulart, teve a sua participação política em 1947 como deputado Estadual, e federal em 1950, foi secretario do Interior e da Justiça no Rio grande do Sul. Em 1954 presidente do PTB e foi convocado por Getúlio Vargas, para ir para o Ministério do Trabalho. Assumiu o ministério quando os marítimos estraram em greve, lutando por melhores salários. Mediou o conflito favorecendo com sua influência, as reivindicações dos grevistas. E a história está assim registrada o texto de Maurício Dias, texto que fez o filme de Silvio Tendler. E o importante foi que neste período num dia 1 de maio ele preparou o presente aos trabalhadores um aumento de 100 % de aumento. Getúlio pagou mas demitiu. E talvez aí ficou marcado por setores da burguesia, que teceu as mais variadas críticas a Jango.

E em 13 de março de 1964 , os jornais do Estado da Guanabara circulavam com um anuncio de primeira página , em que havia o traço de um camponês sem rosto, com as mãos firme segurando o cabo de uma enxada, com os dizeres você deve estar presente ao comício das reformas. E que reformas era essa era aquelas incluídas por Celso Furtado no Plano Trienal, concluído em 1962, quando integrava o gabinete do Ministro Hermes Lima. E essas reformas de bases se dividiam em quatro categorias, a) administrativa, b)financeiras, c) tributárias e agrárias. Para o historiador Thomas Skidmore, nas condições que encontrava o Brasil era essenciais para a época. E com uma multidão entre 150 a 300 mil pessoas foi realizada com a presença de políticos e líderes sindicais e neste episódio anunciou importantes medidas, através de decretos, como a encampação das refinarias particulares, o tabelamento dos aluguéis dos imóveis desocupados e a desapropriação de terras valorizadas pelos investimentos públicos, ou seja terras as margens dos eixos rodoviários e dos açudes, ou que pudesse tornar produtivas as áreas inexploradas. Enquanto Miguel Arraes e Leonel Brizola pregava a convocação de uma constituinte tentando uma unidade de frente popular as reformas de bases. E essas eram assim reformas agrarias com emenda constitucional que previa indenização em dinheiro, reformas politicas com a extensão do direito de votos aos analfabetos e praças de pré, segundo a doutrina de que os alistáveis devem ser ilegíveis, Reforma universitária, assegurando plena liberdade de ensino e abolindo a vitaliciedade de cátedra, reforma para a delegação de poderes legislativos ao presidente da Republica, Consulta à vontade popular, através de plebiscitos para referendum das reformas de base.

Depois do comício o general Humberto de Alencar castelo Branco, receava tomar iniciativa de violar a legalidade, sem cobertura politica, e ficar só. Queria fazê-lo diante de um fato que comovesse as Forças armadas, com a intervenção federal no Rio de janeiro, Minas gerais e São Paulo, a convocação de greve geral pela CGT. E a Cia se encarregou de prepará-lo o golpe e dava assistência ao Centro de Informações da Marinha (CENIMAR) e a polícia de Carlos Lacerda também infiltraram entre os marinheiros. Enquanto que num sindicato de marinheiros que comemorava-se 2. aniversario da associação dos Marinheiros e Fuzileiros navais, mas Sr. Silvio Frota manda prender 40 marinheiros, e colocava a entidade como subversiva, como se entidade que dava curso de marinheiros não pudesse dar, que prestava assistência médica não pudesse mais atender. A verdade era que o governo não estava preparada para a reação que iniciava-se dentro de suas próprias forças armadas instruída pelos americanos.

Em contraponto setores da Igreja Católica, no dia de São José dia do patrono da família setores da burguesia e a imprensa organizaram a Marchada Família com deus pela liberdade, usando a a força das empresarias femininas e católicas "Mulheres pela democracia e União cívica Feminina", em São Paulo organizada pelo deputado António Silvio da cunha Bueno mas toda a conspiração teve apoio do governador de São Paulo Ademar de Barros, de Auro Moura de Andrade e Carlos Lacerda. pediram a saída de João Goulart. De princípio o golpe civil e militar teve apoio da Confederação dos bispos do Brasil -CNBB, somente depois opuseram. E assim tramaram o golpe. O Comício era para acelerar as reformas de bases, mas um conjunto de ações permitindo a violação para retira-lo do poder. para evitar a derrota, Jango recuou, Isolado no congresso hostilizado pelos governadores Carlos Lacerda, Magalhães e Ademar de Barros. No seu comício importante levou a mensagens as massas mas não agradou a elite, nem a Fiesp nem TFP-Tradição Família e Propriedade.

Em nossa história sempre há marcas indeléveis de sonhos, por certos de momentos tristes outras vezes aflitivas e em raramente alegres. E para nos situar num grau mais elevado de nossos conhecimentos , buscamos na memórias os debates contemporâneos, muitas vezes frios numa pré-noção da realidade. E nisto lembramos das palavras de Gregório Bezerra, "Quando o sr. João Goulart veio para presidência da República trabalhamos no campo, organizando ligas camponesas, associações camponesas e outras associações em defesa da reforma agrária e das reivindicações mais sentidas dos camponeses pobres do Brasil, aprofundamos nossas organizações", Francisco Julião disse "Goulart defendia as reformas de bases: reforma agrária , reforma urbana e tributária, então nós entramos nesta luta. O que queríamos era que a massa camponesa participasse de mobilização que estava se desenvolvendo no Brasil com esse presidente. Mas os militares subverteram o conceito de nacionalidade. Adotaram a teoria da segurança Nacional editou a sua ideologia, após a tomada do poder menosprezaram as instituições, instalaram a ditadura, e observando a fala de um apoiador do golpe como sr. Roberto Campos que disse "O golpe militar tomou duas medidas de reformas institucionais, primeiro aboliu os partidos tradicionais, excessivamente personalista e facciosos, e substituíram pelo bi-partidarismo. Para melhor controlar pois o congresso é apenas um instrumento pra não atrapalhar o executivo."

Bem diferente daquela ideia de independência dos poderes, distintos e harmoniosos entre si. E por isto precisamos pensar na vida muito além da história. quem governou o Brasil foi Michel Temer que á atuou em 2006 como informante da Embaixada dos Estados Unidos da América quando era deputado federal, conforme informações publicadas em jornais brasileiros em conversas reveladas com Consul Geral dos Estados Unidos Christopher J. McMuller . Portanto ainda temos um cordão umbilical com o governo estado unidense, como se estivéssemos em guerra fria. E são essas impressões as marcas indeléveis de nossos sonhos, por certos tristes, outras vezes aflitivas e raramente alegres.

E esses são momentos de pura e doce reflexão. E para não perder esse vínculo de submissão de nosso governo de nosso exercito, que permanece de joelho , numa forma indecorosa, temos um presidente hoje como Jair Bolsonaro que queria o filho como embaixador nos Estados Unidos e para isto treinou-o fritando hamburg, e hoje tem saudade do passado, da guerra fria, e mostra um desfile do nosso exército imensamente patético com um tanque soltando fumaça, parecendo aqueles veículos que lança veneno para matar o mosquito da dengue. Ou seja um governo que mais parece cômico do que sério, mas tudo bem seus seguidores são chamados de gado. Acho isto estranho mas é o Brasil que temos.


Manoel Messias Pereira

professor de história, cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto-SP /Uberaba-MG
Brasil









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