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Artigo - Os 100 anos de nascimento de Joseph Ki-Zerbo - Manoel Messias Pereira

 

foto retirada pela revista Cult




Os 100 anos de nascimento de Joseph Ki-Zerbo

Hoje recordo os 100 anos de nascimento do professor Joseph Ki Zerbo, nascido na Burkina Fasso ou alguns escreve Burkina Faso em 21 de junho de 1922 e falecido em 4 de dezembro de 2006. e pelo que sei não existe quase nenhuma escola que não tenha um livro de Joseph Ki Zerbo, porém é preciso que os professores de história, leiam organize suas aulas, assim como introduza na sua vida as sapiências deste grande mestre que pelo visto é consumido pelo que parece por um silêncio, solto aos ventos. Ele que foi educado na Sorbône em Paris, graduado em história pelo Institut d' Etudes Politiques em Paris no ano de 1955. 

O que sabemos é que Joseph Ki Zerbo viveu intensamente todo o período da independ~encia e construção das jovens repúblicas africanas. Sua longa trajetória de uta começou quando fundouo Movimento de libertação Nacional durante a guerra de independência. Numa época em que trabalhou entre outros com o camarada Patrice Lumumba, o líder da causa da independência do Zaire. Atualmente a Republica Democrática do Congo. 

Dirigiu no seu país o partido chamado UniãoProgressista Voltaica da qual foi presidente, e foi candidato a presidência da república em 1978, num período em que eram três civis disputando o cargo e um militar e não puderam derrotá-lo. Esse militar tinham relações com o exterior  europeu capitalista.

Esse governo constitucional durou pouco. Em 1980 houve outro golpe de estado, o primeiro tinha sido em 1965, apenas cinco ano depois da independência. O de 1965 foi o golpe dos revolucionários marxistas liderado pelo grande Thomas Sankara  e apoiado por civis de orientação stalinista. Enfim era um comunista no poder. 

Porém Ki Zerbo que era socialista e membro filiado a Internacional Socialista dizia que tinha divergências politicas com Sankara. Pois os comunistas dizia que esses socialistas perdiam muito tempo com a democracia burguesa e com as eleições. Poém  ambos entendiam que era que tudo era possível através da revolução e que o fim justificava os meios. Por isto ambos estavam de acordo que para por em pratica as suas ideias era preciso tirar do caminho os defensores do imperialismo.

Foi um príodo em que na América Latina havia muitos desaparecidos políticos e Ki Zerbo foi acusado de inimigo do povo e levado a um tribunal e segundo o que ele e que o seu julgamento iria ser transmitido pela televisão porque queriam demonstra-lo como exemplo. e ele dizia que ele servia para isto pois era o símbolo de um geração de uma intelligentsia que tinha influenciado de forma profunda o pensamento de milhões de africanos .

Porém fugiu do país, o que incomodou- os e passou dez anos em Dakar na capital do Senegal. Foi o período que a mãe de Ki Zerbo faleceu e ele não  pode ir ao velório e nem ao sepultamento.

E Ki-Zerbo reconhece no entanto que entre os responsáveis por aquele governo alguns honestamente estavam convencidos de que era o caminho para transformar o país. E dizia ele "era muito dificil para eles distinguir os limites entre o que era possível e o que não era possível fazer.  E não sabiam que a política é a arte do possível.

Sankara foi derrubado, julgado e depois executado junto com mais doze colaboradores, e em 1987. Desde então Burkina Faso viveu um período de grande instabilidade política até que em 1991 realizaram novamente as eleições.

Para Joseph Ki Zerbo, teria sido melhor que tivesse realizado uma Conferência Nacional para discutir  os problemas do país e avaliar tudo o que ocorreu de bom e de ruim, desde a independência. Talvez assim evitasse repetir antigos erros e pudessem construir um consenso político com base ética e moral para deixar definitivamente para atrás aquela página da história, e que todos pudessem perdoar-se mutuamente e iniciar juntos um novo caminho. Mas os militares que participaram daquela experiência continuavam vivos, não só porque mataram dirigentes civis, como mataram entre si e não quiseram participar em nada disto.

Outra reivindicação da União Progressista Voltaica era a reconstrução democrática se desse de uma forma progressiva: primeiro com eleições municipais, depois, legislativas e, por fim presidenciais. Mas a ideia não foi aceita. O novo presidente acabou-se pré-sentindo como candidato único e recebeu apenas 24% dos votos. Os demais partidos não apresentaram candidatos.

Pouco depois de assumir o presidente convocou eleições legislativas, e Ki Zerbo acreditou que era o momento regressar o país. Já não pesava contra ele as acusações embora todo o patrimônio dele e a biblioteca com mais de dez mi livros tivesse sido confiscado e ele sem saber se algum dia iria recuperá-lo.

Volta numa condição adversa uma com uma caminhoneta emprestada e com pouco dinheiro, fez uma campanha e foi eleito deputado. E seu partido conseguiu treze cadeira no parlamento. E dizia se houvesse na Burkina uma democracia real poderia ser o principal partido.

O historiador mostrou aos seus aliados europeus a enorme dificuldades materiais que a oposição enfrentou durante a campanha. E ele disse "quando mostrávamos a disparidade que condições entre os candidatos, nos respondiam que não podem se imiscuir nos assuntos africanos. Talvez na verdade, o que nos queriam dizer é que a África é um continente que não tem mais nada para dar. Isso é muito triste, completou o historiador.

 'Com o correr do tempo, os próprios africanos a considerar como povos que nada tem a oferecer. E isto é um desestímulo para qualquer possibilidade de mudança. Agora somos chamados países receptadores (O Norte é o doador) Com essas relações internacionais não podemos conseguir nenhum progresso."

Recordo numa reportagem de Beatriz Bissio de que as raízes do subdesenvolvimento no continente africano estão na não superação do modelo econômico imposto na época colonial, e ela dizia que a imagem da fome mostrada em todo o mundo na televisão permitiram conhecer o ângulo mais trágico do continente africano, num sinônimo de pobreza e atraso, porém esquecem de dizer que isto é fruto do neocolonialismo, do imperialismo econômico e politico das grandes potencias capitalistas, que fizeram daquele continente esse teor de lapidação de degradação, num desrespeito total aos seres humanos nativos.

E isto nos remete ao professor Joseph Ki Zerbo como um historiador e educador, educado na Sorbône em Paris, Graduado em história pelo Institut l'Etudes Politiques em Paris no ano de 1955. E que seu retorno à Africa primeiramente a Conacri- Guiné e depois na sua cidade natal Burquina Fasso onde foi ativo desde 1958 até a sua morte. Líder do partido de oposição Parti pour La Democratie et le Progrès (PDP) e fez sempre um paralelo na sua vida politica a de historiador e escritor

Em 1972 publicou L' Histoire d l'Afrique Noire, o trabalho padrão no assunto que atualizou repetidamente. E de 1972 a 1978 oi membro Executivo da Unesco e professor e diretor do na Université d' Ougandougou. e membro do comitê Científico para a História Gera da África pela Unesco e os 8 volumes, que hoje conhecemos em todas as escolas brasileiras e o diretor do primeiro volume de Methodologie et pré-histoire africano lançado em 1981.

Em 1992 decidiu reconstruir o CEDA o Centro de Estudos da África que conduziu a pesquisa com a finalidade de determinar uma ou mais hipótese globais de compensação, responsável por inspirar a ação africana e capaz de integrar a preservação ecológica e a práxis social identidade cultural, setores chaves que são tratos dos quais invariavelmente com secundário projetos de desenvolvimentos.

Ele dizia "devemos retomar a imaginação constitucional das sociedades africanas à sua tradição de criatividade através da mais longa escala possível da ciência e fecundada nestas bases rearticulara uma práxis. São apropriando às situações. Não podemos reconstruir a identidade da qual os países africanos se tornaram alienados pelas vicissitudes da história e pela própria amnésia.

O CEDA a base que ele conduziu para uma cruzada intelectual para a refundação dos objetivos de desenvolvimento africano e métodos.

Portanto falar de Joseph Ki Zerbo é entende-lo como profundo pesquisador, profundo historiador e profundo político  cujo a África é a sua base para estabelecer uma filosofia política no trajeto de desenvolvimento. Ele afirmava "A África que o mundo necessita é um continente capaz de ficar de pé. É uma África consciente do seu passado capaz de continuar reinventando este passado em seu presente e o seu futuro. Lutou até a morte pelo pan africanismo.

E como na reportagem de Beatriz Bissio,  ele disse que via todo um processo liquidado pelos interesses dos Estados Unidos e da Europa Ocidental e dizia que antes de qualquer princípio,  deste sistema capitalista tinham seus próprios interesses. e lá apoiavam militares para e que  desejam estabilidade em vez de justiça e que os seus interesses sejam salvaguardados. 

E na época eu até diria que  devia sentir -se quase impotente com um país em que 80% era de pessoas considerada analfabetas ou que não detinham a possibilidade de conhecer os signos do alfabetos, e que construíram dentro d'Àfrica aproximadamente 200 partidos de defesas dos interesses dos neo colonizadores e ele dizia "afirmo sem medo que nesse caso o multipartidarismo está sendo usado contra a democracia."

Ou seja acredito  que  nestes partidos a maioria da população não tem voz, não tem participação e não tem presença apenas um ritual mecânico, burocrático para conduzir pessoas sem nenhuma empatia cultural com aquele povo. É um pouco o que acontece no Brasil. Embora a história seja outra.

Ki-Zerbo disse e ficou registrado na Revista Caderno do Terceiro mundo extinta hoje "O primeiro passo deve ser construir nossa própria identidade. Esse processo existia antes da independência. Havia naquela época grandes pensadores que tinha uma visão global da África, viam mais além de suas fronteiras nacionais. Mas pouco a pouco foram sendo todos eliminados."

 Com isto e digo respirem é o mundo capitalista central  criando seus países e territórios de dependência politica e econômica no chamada periferia do mundo onde extrai-se a riqueza e deixam as dores, as violências e a desgraça implementada  um povo desassistidos.

Em 4 de dezembro de 2006 numa segunda feira, soubemos da morte de Joseph Ki-Zerbo, que adormeceu para a eternidade, enquanto muitos trabalhadores, acordavam para ir aos seus afazeres num silencio melancólico do inicio de uma semana de trabalhos e labutas. E que a paz do sono eterno te conduza para a leitura aprimorada de seus livros. Joseph Ki Zerbo presente agora e sempre.



Manoel Messias Pereira

professor, poeta
Membro do Coletivo negro Minervino de Oliveira
São José do Rio Preto -SP. Brasil


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