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Crônica - Que todos possam mover-se pelo amor - Manoel Messias Pereira

 


Que todos possam mover-se pelo amor


Vivemos num mundo em que existe mais desamor, mais desencanto, mais horror, golpes de Estados , terrorismos, homens armados, civis e militares, matando, matando. Outros seres humanos, anunciados ou não, fazendo uso do sistema capitalista que é o sistema da desigualdade, da desgraça, da violência do racismo. Dos lucros fáceis, dos conglomerados que fazem todos de seres escravizados. São eles que determinam o olhar político sobre o mundo. São eles que detém o poder dos preços, da gasolina, do óleo diesel, dos alimentos. São eles que determinam quem será o presidente, o governador, o prefeito, o vereador, os deputados e os senadores. São eles que determinam o grau de tristeza que vai brotar, nos olhos das crianças, que vai matar as esperanças nos olhos das mães, que as vezes rezam e choram, pensando num outro amanhã, como se tudo fosse mágico como os raios do sol. Mas o amanhã não virá.

É exatamente esse mundo que vivenciamos, e temos que suportar ou amenizar, e guardamos em nós um sonho, uma esperança, uma palavra poética provindo dos mestres da poesia, principalmente que nos traga sempre e reluzente a palavra "Amor", seja ela cantada, tocada ou falada em forma de arte.

Recordo dois grandes nomes da literatura brasileira que sempre admirei desde a minha infância, foi Paulo Leminski e Vinícius de Moraes e que fizeram-me desenvolver uma linha de raciocínio, critico, em relação ao sistema politico, mas também para um desenrolar poético.

Leminski, escritor, jornalista, critico literário, tradutor, violonista e poeta. Um dos mais expressivos de minha geração nascido em 24 de agosto de 1944 em Curitiba e falecido em 7 de junho de 1989. Sua poesia faz um trocadilho, que encanta. Um afro descendente, polonês, chamado carinhosamente no Brasil de polaco.

Lembro inicialmente dele participando do chamado "Jornal de Vanguarda", que foi criado para a TV Excelsior em 1963, por Fernando Barbosa Lima, uma obra prima na arte de comunicar e bem informar, que superou o grande jornal da BBC de Londres. Porém no Brasil em 1968 foi calado, graças ao Ato Institucional n.5 de 13 de dezembro de 1968.  E acabou sendo reeditado pela Tv Bandeirantes em 1988, um programa que vi apresentado pela Dóris Giesse, um encanto. Porém de Leminski, trago sempre em mim a sua poesia publicada pela Editora brasiliense, no livro "La Vie en close", chamada "Amor Bastante"

Amor Bastante

quando vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meus olhos ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante

e você tem amor bastante."

Já em relação a Vinicius de Moraes o poetinha do amor, nascido no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913 e falecido no Rio de janeiro em 9 de julho de 1980, devido a um edema pulmonar. Comecei a gostar deste autor, que era também jornalista, foi bacharel de direito, diplomata em Paris, tocava violão, escrevia em jornal. E ouvia as suas músicas todos os dias a noite quando estava, lendo, refletindo fazendo exercícios escolares enquanto era apenas um aluno, ou seja uma palavra que vem do latim alêre, o difícil é fazer o computador que não está programado para colocar o til na palavra alere fazer isto, fica com um acento circunflexo, ou seja muda a palavra, mas vocês me entende, é  aqui  do qual compreende a ideia de conhecer alimentar, fortalecer, de buscar a luz da sabedoria, porém num programa de Rádio da minha cidade, chamado "Roberto de Souza o Dono da noite" um programa que foi apresentado pela Radio Independência, Brasil Novo, a antiga Piratininga, ou Radio Rio Preto entre outras e que marcou gerações. Ouvi a assim a Serenata do Adeus. E logo pela manhã essa canção começava o dia comigo. "Ah vontade de ficar mas tendo de ir embora aí que amar e se morrer pela vida afora é refletir na lágrima o momento breve de uma estrela cujo a luz morreu." Porém o que destaco é o poema "Soneto do maior Amor" que foi publicado na sua antologia poética da Editora Schwarcz, da Cia das letras.

"Soneto do Maior Amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Oxford 1938

Um belíssimo soneto do jeito que aprendemos no ensino fundamental, inicial, uma aula de poesia. E também falando de amor.

O que trazem esses dois fragmentos poéticos, e que também aproximou-me são duas coincidências a respeito de suas vidas. Ambos alam de amor ambos toam violão, ambos fumavam bastante, ambos gostavam de uísque, a ponto do poetinha dizer que o maior amigo do homem dizem que é o cachorro porém para ele o uísque era o cachorro engarrafado. Já Leminski gostava de tomar era de tomar café não sei se café da cirrose, não tem jeito, nunca serei médico. Porém Tanto Vinícius quanto Leminski, nasceram e morreram na sua cidade de origem. Vinicius no Rio de janeiro e Leminski em Curitiba.

Quando Leminski fala do Amor Bastante, neste poema ele faz uma revelação o de encantamento por alguém que é esse você. Porém o brilhante é ver a pedra valorosa do sistema capitalista como o diamante, dura, que corta vidro, que encantam as mulheres burguesas nas suas joias mais requintadas. Porém nisto há um encantamento, o sonho da possibilidade de todas as mulheres ter o diamante, mas não trata disto o poema trata da nobreza do pensar, da beleza que existe na outra pessoa, talvez esse é o encanto do amor do que fala o poeta, na sua "la vie en close c'est une outre chose".

Quando Vinicius fala do amor, parece que ele quer transmitir o sentimento que não cabe em si. Pois no Maior Amor, há o momento de euforia, há a tristeza, quando ele disse nem mais estranho existe, ele confessa, que sentir se apaixonado é uma carga, em que você chora e que você ri e que só fica em paz se o coração amado vier corresponder aos fatos. Ele era um ser que amava, demais, que se apaixonava, que mandava flores e que casava, e casou tantas vezes, e viveu o amor enquanto durou, quando a relação acabava ele talvez chorava ia embora apenas com a escova de dente, desassombrado, doido e delirante.

Enquanto hoje falam do ódio, adotam a violência como algo corriqueiro, em um ser humano assassina o outro pela banalidade da existência. é preciso pensar no amor. Como dizia Buda "tudo existe é um extremo. Nada existe é o outro extremo. Devemos sempre nos manter afastados desses extremos, e seguir o Caminho do Meio." Eu concordo com Buda. E creio que homens e mulheres independente de seus sonhos tem de estar sempre um cheirando o outro um no meio do outro. Seguindo Vinicius "fiel a sua lei de cada instante", frase do  soneto Maior Amor. Frase essa que casa com o que disse Paulo Leminski "Basta um instante e você tem amor bastante".

Penso que precisamos mover por amor, para o amor, na vida e por toda a eternidade. E que assim seja, no princípio , agora e sempre, amem.

Manoel Messias Pereira
poeta, cronista e professor de história
membro da Academia de letras do Brasil -ALB






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