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Crônica - O frio - Manoel Messias Pereira

 




O frio

Hoje comecei a lembrar do frio, mas da minha infância. Recordo dos meu cinco anos eu descalço, naquele bairro sem asfalto, sem energia elétrica, do jardim Vitória Regia em São José do Rio Preto onde residia. Tremia muito mais encantava com as aranhas que teciam suas teias como se fosse telhas e que protegiam suas pequeninas aranhas.

E eu fiquei encantado com as teias das aranhas que tecia lindos bordados  na vegetação. Eu corri par comunicar o fato para a minha mãe para um tio, para minha avó ou seja pessoas mais velhas. Cheguei correndo entrei em casa e que vi era que todo mundo já tinha levantado e saído  para o trabalho. Fiquei sem graça sem ter com quem falar. Naquele tempo era comum nós crianças ficar sozinhos em casa.

Mais tarde veio o sol e aquela maravilha proporcionado o calor, coisas  do fenômeno climático assim como com a beleza do frio e mais tarde do calor. Assim  tanto das vegetação quanto das obras de artes  das aranhas foram se desfazendo. Naquele tempo não havia em casa e se houvesse não teria acesso a uma máquina de foto. Não havia em mãos maquina de filmagem enfim essa experiência ficou apenas na minha lembrança. É aprendi que a beleza é coisa para se guardar e quem nem toda a natureza dá pra compartilhar. E geralmente os adultos  não observa nem criança, nem vegetação, nem pequenos animais.

As aranhas quanto maior, mais linda  parece que tens garra e organiza teias frágeis tão qual as mãos de uma mãe sempre precisa em acudir e, acariciar os filhos e benditas sejas as mães.

Um outro momento de frio que passei foi aqui em São José do Rio Preto -SP, e também enquanto crianças foi quando fui para a Escola Dr. Cenobelino de  Barro Serra. Lá havia duas funcionarias uma chamava Andrelina e a outra Durvalina. Assim que essas duas mulheres viu em chegar a escola e era um dos primeiros alunos a chegar todos os dias. E sentar naquele pátio frio, aberto num banco gelado de cimento, a dona Andrelina veio até a mim e perguntou se não tinha um blusa melhor para vir a escola. Eu respondi que o que tinha era o que eu estava usando. Era uma blusa de frio que a estava ficando pequena pra mim, que era feita de flanela, porém para um tempo de geada infelizmente não segurava o frio. e eu tremia bastante. Dona Andrelina veio com uma blusa azul e me deu.

Mais tarde a dona Durvalina veio e pediu para que eu fosse a tarde na Escola que eles iam me dar um presente., pois é, recebi mais uma blusa. E pensei já sei o que tenho  duas blusas , tenho duas irmãs e vou agasalhar uma delas ou talvez deixar para ela a blusa de flanela pois basta enrolar outros panos elas não sofreram com o frio de junho. Quando uma professora começou a tecer uma blusa de lã verde e preta, e me deu de presente. Assim soube como agasalhar a todos eu e minhas irmãs em casa.

Á noite veio em casa o Sr. Arruda e Sr. Marcio ambos da Maçonaria, vieram numa sessão do culto afro que era feito lá em casa num barraco de madeira. E levaram para nós dois ou três cobertores, cadernos, e lápis borracha e um livro de história do Brasil do autor José Ribeiro. E foi com esse livro que enfrentei todo mundo. Era um livro que tinha inclusive uma linguagem  difícil, o que obrigou a interpretar mais tarde além de uma grafia já desatualizada. Assim ainda garoto pude perceber que a língua muda.

E sabendo que a linguagem muda, recordo que ao tentar dialogar com um vendeiro ou dono de boteco começou a rir das palavras que estava usando e percebi, que tinha falas já em desuso por aqui. Talvez o tempo em que convivi com a minha avó contaminei com seu linguajar.

Porém o assunto que trato aqui é o frio e o que noto é que esse clima para mim bastante desconfortável fez eu perceber por parte de algumas pessoas da época um certo respeito pelo menos das pessoas que estavam próxima da escola. Ou seja observei que todos tinham atitudes de educadores. E que todos souberem acolher-me como as grandes aranhas que acolheram as menores, na suas teias.

 E o que aprendi com isto foi um olhar de respeito a minha pobreza, fruto da miséria capitalista como sempre aprendi que é o causador da desigualdade, da fratura e da cratera física e imaginaria de toda a existência e o contexto importante é  de solidariedade entre as pessoas com quem passei a relacionar-me. Agradeço à todas essas pessoas que tiveram importantes papeis em meu destino.


Manoel Messias Pereira

professor, cronista

São José do Rio Preto -SP. Brasil



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