Unesp - Barbara Rodrix: Fazer da música um álbum de fotografias

 


Barbara Rodrix: fazer da música um álbum de fotografias

Filha de um dos grandes nomes da MPB dos anos 1970, a cantora, compositora, musicista e produtora vem se destacando na nova cena musical brasileira por sua obra independente e autoral.

Barbara Rodrix nasceu em 1991, em São Paulo, em um ambiente extremamente musical. Seu pai, o cantor, compositor e multi-instrumentista Zé Rodrix, despontou como músico a partir da década de 1960 e tocou com alguns dos maiores nomes da MPB, como Edu Lobo e Milton Nascimento. Posteriormente, formou  o trio Sá, Rodrix e Guarabira, que se tornou nacionalmente conhecido nos anos 1970 como um dos expoentes do chamado rock rural do Brasil. Porém, quando Barbara nasceu, Zé Rodrix, já havia se distanciado dos palcos. Atuava na área da publicidade, gravando jingles e trilhas, e também era dono de um estúdio bem conhecido em São Paulo, denominado Voz do Brasil. “Com 3 anos de idade eu frequentava esse estúdio, e meu pai me colocava para gravar algumas publicidades. Minha carreira se iniciou com esse viés publicitário. Gravava locuções, dublagens, cantava coros. Segui nesse caminho por um bom tempo”, relembra.

Aos 11 anos, Barbara já gostava de cantar, e ganhou do pai um violão. “Daí comecei a aprender a tocar e cantar canções. Entretanto, nunca gostei muito de reproduzir coisas. Preferia criar de maneira autoral. Era algo muito intuitivo. Então, passava muito tempo entendendo meu jeito de criar”, conta.

Ao ver que a filha estava descobrindo sua criatividade, o próprio Zé Rodrix sentiu vontade de voltar a compor canções. Nesse mesmo período, foi convidado para retomar o trio, ao lado dos amigos Sá e Guarabyra. Era o começo dos anos 2000. “Após o retorno do trio, me lembro de acompanhar meu pai nos shows pelo interior de São Paulo. Isso me motivou a entender o que eu queria fazer”, conta.

Quando tinha apenas 15 anos, Bárbara gravou seu primeiro disco autoral, intitulado Ninguém me Conhece, que foi produzido por seu pai.

“Meu pai me sugeriu reunir algumas canções que tinha composto para fazermos um registro, que por fim virou um disco autoral. Na verdade, a gente nem chegou a fazer um lançamento do trabalho. Mas ele percebeu que tudo estava acontecendo muito rápido e me proporcionou essa experiência profissional de gravar um álbum”, lembra. Ela valoriza o trabalho por outras razões além das musicais.

“São as primeiras canções que fiz na vida. Ali tem canções lindas, com arranjos de cordas lindos e tal. Mas, hoje, me toca num lugar que é muito mais do que isso, ou seja, a oportunidade de vivenciar aquele momento com o meu pai. Foi um processo muito bonito. Ele me ensinou muito, pois quem estava ali ao meu lado era também o produtor Zé Rodrix. Isso é interessante, ele era uma figura que demorei para conhecer. Na minha casa, não se falava muito sobre isso. Até que eu fui lá ver os discos dele e comecei a ouvir”, diz. “Em 2009, quando estava com 18 anos, meu pai morreu. Mas deixou esse belo legado artístico e de memórias.”

Eu Mesmo

 Em 2016, Bárbara lançou seu segundo álbum, intitulado Eu mesmo. O trabalho foi  produzido pelo pianista, compositor e arranjador Breno Ruiz, e trouxe participações de Federico Puppi, Luiza Possi, Tuco Marcondes e Proveta.  

“Apesar de não conter apenas músicas minhas, trata-se também de um disco de composições autorais e parcerias”, diz. “Esse trabalho tem uma descoberta do meu caminho sem meu pai. Creio que foi um momento de renascimento, de virada… E, principalmente, de como fazer, com quem fazer, o que falar. Ou seja, um álbum com registros de momentos da minha vida, e, também, de uma nova versão de mim mesma. Musicalmente, o disco traz muito dessas influências que recebi de herança do meu pai. Muito de blues, tipo bateria com vassourinha e baixo acústico. A produção musical foi do pianista Breno Ruiz. Acho que marca um amadurecimento da minha trajetória”, diz.

Bárbara é formada em canto popular pela escola de música do Estado de São Paulo (EMESP). Já se apresentou em diversos festivais de música pelo Brasil, tendo sido premiada em muitos deles, como Fampop, Botucanto e Festival Nacional da Canção. Durante sua carreira, ela compartilhou projetos e palcos com artistas variados, incluindo Paulo Novaes, Ceumar, Salomão Soares, Vanessa Moreno, Tete Espíndola, Luiza Possi e Breno Ruiz. Nos anos 2017 e 2018, acompanhou o quarteto vocal MPB4, com quem fez uma turnê de dois anos. Desde 2019 reside em Lisboa, e lá pode mostrar seu trabalho autoral em alguns palcos importantes, como o do Festival Jardins do Marques, o Salvaterra, o Coliseu dos recreios e o Tivoli.

Em 2025, Barbara gravou seu novo trabalho, Ar. Seu lançamento ocorrerá nas plataformas digitais de música neste mês de abril. “Ar apresenta uma série de nuances da minha vida. Eu vivo em Lisboa desde 2019, e Ar mostra características muito diferente dos outros trabalhos. Posso dizer que é um disco só de canções minhas comigo mesma, um mergulho no meu universo íntimo e pessoal”, diz. A produção é de Raul Misturada, e conta com a participação do trumpetista português Diogo Duque.

“Eu acho que a minha obra é um retrato das minhas versões. É o que sinto até hoje. Claro, tudo pode mudar, e em algum momento pode ser que queira fazer algo que não seja baseado no que vivo. Mas posso dizer que a minha obra é meu álbum de fotografias”, diz.

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp

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